quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

cronica do amor cronico

Aconteceu de eu amar, uma vez.
E desde então não parei mais.
Tornei-me compulsivo, inveterado...
mas não com a paixão de um viciado
e sim com a graça sublime dos eleitos.
Até porque as paixões são agudas, mas obtusas.
Espertas, porém burras. São contundentes, contudo
acabam em nada quase sempre.
A paixão é uma loucura, um repente...
Já o que eu sinto é crônico
e o amor crônico não é louco:
não rasga dinheiro, por exemplo –no máximo, umas cartas.
Não salta do milésimo andar do frenesi em que a paixão se atordoa -mas salta da boca, dos olhos, do coração, pelos poros...e, inebriante, voa!...
Amores crônicos não matam nem morrem:
vivem em nós e nós neles, hóspedes em simbiose.
Crônico... o amor que eu sinto por certos sítios,
por alguns amigos, por uma amada...
ele se ergue, mas não como uma dessas árvores sujeitas às estações e à micção dos cães, onde, com um canivete afiado alguém rabisca um nome versus outro -no centro de um coração que em seiva se esvai...
o amor de que falo é delicado e perene -como um bonsai...
na varanda varada de luz de um samurai.

2 comentários:

Unknown disse...

Lindo este teu amor...quisera eu sentir um dia um amor assim...quem sabe ele irá acontecer.

Nayre disse...

Bonito e delicado, grande sacada, comparar o amor com um bonsai.